O que é Sublimação?

O que é Sublimação de fato? Porque Freud escolheu este nome?


   Inicia-se com o desfecho de arte e psicanálise porém, é necessário compreender a sublimação e seu sistema e porque Freud deu este nome a este mecanismo de defesa. Acredito que dentro do contexto Psicanalítico este é sem duvida o termo que eu como Psicóloga, trabalhando com Arte-Terapia, mais uso em contexto cotidiano. Mas afinal, o que é SUBLIMAÇÃO?

    Sublimação vem do termo “Sublimierung”, de origem latina, indica um movimento de elevação daquilo que se sustenta no ar. Utilizado por Freud, admite várias aplicações e desdobramentos aplicado na ciência da psicanálise. Na química, a sublimação é definida como a passagem do estado sólido para o gasoso, com isso, consiste na transformação do vil metal em ouro puro pois na alquimia, a água sempre é água em qualquer estado: sólido, líquido ou gasoso. As moléculas se concentram e chove, se transformam em líquido, mas não perdem a essência.

   Na sublimação a energia pulsional, o conteúdo sexual da pulsão nunca é extinto, há sempre um a essência do inconsciente fragmentado em coisas que o individuo faz, daí o nome sublimação. ATTIÉ (1997, p.146) acrescenta que, no sentido moral, a sublimação é uma purificação da alma. Sublimação está articulada ao conceito de um mecanismo de defesa adotado pelo ego porém, podemos dizer que a concepção Freudiana para a Sublimação é pouco citada em toda sua obra, pois Freud estudava principalmente o individuo doente, sabendo-se que a sublimação de fato não é uma patologia e sim uma saída aceita socialmente por isso os estudos não se aprofundaram.

   A palavra sublimação foi enunciada precocemente no discurso Freudiano. Com efeito, em sua correspondência com Fliess, Freud já se refere à existência da sublimação (FREUD, 1973). De maneira pontual, ele afirma que o objeto e o sublime teriam a mesma origem psíquica, ainda que a representação então presente nos discursos filosófico e do senso comum os considerassem opostos e em diversos campos. Nesse momento, portanto, o abjeto se refere ao que, posteriormente, o discurso Freudiano inscreve nos registros do pulsional e do sexual.

   A sublimação no conceito Freudiano é um “processo que diz respeito à libido objetal e consiste no fato de a pulsão se dirigir no sentido de uma finalidade da satisfação sexual; nesse processo, a tônica recai na deflexão da sexualidade” (FREUD, 1914, p.101). Segundo Lacan, define-se como sublimação sendo “o objeto elevado à dignidade da Coisa, das Ding” (LACAN, 1959-1960, p.140).
O termo no discurso de Lacan “Ding”, faz a retirada nas formulações Freudianas, vem do discurso – Projeto para uma psicologia científica (LACAN, 1950).

   Mesmo Freud não se aprofundando em estudos sobre sublimação, como já foi falado, Lacan se interessou pelo assunto e foi um dos pioneiros em tentar teorizar o contexto de Sublimação. Segundo Lacan (1959-1960/ 1988), sublimação é a elevação de um objeto à dignidade da Coisa - das Ding. Essa Coisa é o enigma que é desvelado e ocultado no movimento da sublimação. A Coisa pode muito bem ser remontada a essa dimensão do real na experiência psicanalítica; real que é o que sempre escapa e o que não cessa de não se escrever. Na obra freudiana, esse real pode ser remontado uma não relação entre os sexos e ao rochedo da castração, para o qual todo final de análise conduz. É essa Coisa que orienta o desejo humano, o que determina sua indestrutibilidade, já que a principal característica de das Ding é ser inassimilável. Essa Coisa é o que se situa além da representação, ao mesmo tempo em que se faz representar por uma coisa. Ou seja, a Coisa remete a um mais além. Temos igualmente uma dimensão de vazio nessa Coisa, meramente “pelo fato de ela não poder ser representada por outra coisa - ou, mais exatamente, de ela não poder ser representada senão por outra coisa” (LACAN, 1959-60/1988, p.162).

   No processo civilizatório da humanidade tratar sobre o tema Sublimação é o mesmo que desempenhar um papel aceito culturalmente pela sociedade em processo sadio transformado. A sublimação é discorrida na teoria freudiana como um dos destinos pulsionais que implica toda reorientação da pulsão na realização de suas metas - um desvio de uma meta sexual para uma meta não sexual.

   Como trabalhar impulsos libidinais através de desenhos artísticos. Contudo, a definição da sublimação na obra Freudiana se dá através de sua indicação ao lado de outros conceitos e métodos de defesa tal como formação reativa, inibição quanto à meta, idealização e recalque. A sublimação, com todos os problemas que ela suscita, nos remete, antes de tudo, a uma problemática da pulsão e aí reside a dificuldade de sua teorização (LACAN, 1988). Conforme este discurso de Lacan, podemos levar à compreensão do porquê da escassez de teorias sobre a Sublimação, a teoria de Freud é notoriamente curta, e alguns teóricos tentaram escrever sobre o que Freud propôs, porém somente Lacan e Kalu Singh realmente se aprofundaram neste conceito.

   “Algo distingue Freud de todos os analistas que vieram depois dele: não repetia uma teoria, elaborava-a de forma autêntica a partir do próprio discurso de seus pacientes”. (MILLER, 1987, p. 57-58). Considerando este relato do autor sobre teoria e práxis, é definitivamente a plasticidade que Freud usa de mais profundo sobre a natureza das pulsões o que permite a compreensão e possibilidade de satisfação de variados tipos de forma, faz com que seja uma via aberta para a sublimação.

   No caso do artista, pode-se dizer que é seu estilo que nos revela essa característica de modificar a forma de pulsão abrindo uma via para a sublimação revelando aquilo que ele realmente é, em toda sua essência, o seu verdadeiro Self. Algo na singularidade e história do artista que corre para além dos temas recorrentes nas obras escritas e/ou desenhadas, algo faz um contraste entre o real, e o imaginário do artista, algo realmente num tema egoico em análise.

   E também devemos lembrar a maneira pela qual esse artista em particular articula-se com seu desejo pulsional na forma de uma pintura em artes de óleo sobre tela, ou sua poesia escritas em formas românticas, ou até mesmo em sua profissão que ao mesmo tempo revela e oculta esse desejo de forma sublimada porém não invertida como nos outros modelos de defesa do ego, de forma branda com a mesma intensidade do desejo pulsional mas não de forma destrutiva como uma pulsão de morte e sim de forma saudável como uma pulsão de vida na maioria dos casos. E o recurso de que o ego se utiliza para tal é a transformação sem o recalque. Freud acrescenta que “a formação de ideal aumenta as exigências do eu, e é o mais forte favorecedor do recalque. A sublimação constitui uma saída que permite cumprir essas exigências sem envolver o recalque” (FREUD, 1914, p.92).

Nos próximos post faremos um breve estudo de caso simples sobre alguns artistas e pintores. 

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