A palavra Gestalt tem origem
alemã e surgiu em 1523 de uma tradução da Bíblia, significando "o que é
colocado diante dos olhos, exposto aos olhares". Hoje adotada no mundo
inteiro significa um processo de dar forma ou configuração. Gestalt significa
uma integração de partes em oposição à soma do "todo"; dizer que um
processo, ou o produto de um processo é uma Gestalt, significa dizer que não
pode ser explicado pelo mero caos, ou uma mera combinação cega de causas
essencialmente desconexas, mas que sua essência é a razão de sua existência,
(Gestalt-centro 1997).
Pode-se considerar que a
Gestalt-terapia germinou no espírito de Frederick Perls em 1940, na África do
Sul. Quando imigrou, nesta mesma época, para a América com sua esposa Laura
Perls, que era membro da Escola Gestáltica da qual Perls sofreu grande
influência, se integraram a um grupo de intelectuais não-conformistas com o
sistema vigente, entre eles, o anarquista Paul Goodman, Isadore From, Paul
Weisz e Ralf Hefferline, (Gestalt-centro 1997).
A
Gestalt-Terapia apresenta-se como uma abordagem fenomenológico-existencial, ou
seja, uma psicoterapia vivencial que ressalta a consciência do aqui-e-agora,
através do foco de como o fenômeno nos é apresentado, muito mais do que no por
quê. Pode ser considerado
“existencial” tudo que diz respeito à forma como o homem experimenta sua
existência, a assume, a orienta, a dirige. A noção de responsabilidade de cada
pessoa que participa ativamente da construção de seu projeto existencial em sua
relativa liberdade, (GINGER, 1987, p. 36).
PERLS (1977)
considera que antes de procurarmos as coisas que porventura estejam por detrás,
melhor faremos se focalizarmos nossa atenção no que está ali, dado, presente,
visível. Além de que, nisto que está aí, neste óbvio, certamente também estão
presentes elementos do que possa estar por detrás. A Gestalt-terapia é uma atitude de
re-descobrir aquilo que está ali, é uma atitude de lidar com o novo como novo,
é uma atitude de nada afirmar nem negar.
Para a
Gestalt-terapia, o homem sempre está em processo de desenvolvimento, sendo a
noção de processo algo que está em permanente movimento, em constante mudança.
Trabalhamos para promover o processo de crescimento e desenvolver o potencial
humano; a tentativa é de ampliar este potencial, através do processo de
integração. Assim, integrando as partes conhecidas e desconhecidas, partes que
aceitamos e negamos em nós mesmos, vamos nos tornando aquilo que realmente
somos e, consequentemente, a vida flui de forma mais saudável. “Nós fazemos
isso apoiando os interesses, desejos, e necessidades genuínas do indivíduo”,
(PERLS, 1977, p.19).
A
Gestalt-terapia é considerada uma terapia do contato , pois acreditamos que a todo
o momento estamos em contato com o meio, e através deste contato com o meio que
o funcionamento humano pode tornar-se saudável ou disfuncional. É através do
contato que nos damos conta de nosso processo, e que podemos ser criativos na
forma de ver o mundo e de fazer escolhas na vida, (Gestalt-centro, 1997).
Desta forma, o
trabalho clínico em Gestalt-terapia é buscar uma ampliação da consciência do
indivíduo sobre seu próprio funcionamento, ou seja, uma awareness sobre como
ele funciona, como se interrompe no seu processo de contato consigo e com o
mundo, quais as suas tentativas para alcançar seu próprio equilíbrio, tomando
suas próprias decisões e efetuando escolhas que atendam as suas reais
necessidades. Para YONTEF, (1998) é importante que o indivíduo assuma suas responsabilidades diante
de suas escolhas, diante de sua vida, conforme ele vai se conscientizando de
suas escolhas, de seu modo de viver, é possível, então, realizar mudanças, pois
através do contato, a mudança simplesmente ocorre.
RIBEIRO (1985), afirma que a Gestalt é: é um
apelo interno de desvendar-se, de se deixar descobrir, tocar, analisar. Este
autor acrescenta:
“Heidegger dizia
que encarregar-se de alguma coisa, de uma pessoa, significa ouvi-la, quere-la.
É o que estamos tentando fazer: ouvir o ser querê-lo, penetrar no ser através
da Gestalt que ele é descobrir-lhe a proveniência, para sentir o como do seu”
deixar de ser”.
(RIBEIRO,1985. pág. 31)
Enfim, a
Gestalt-terapia promove novas formas de olhar para a vida, em que nada é
definitivo, existem sempre possibilidades a serem exploradas, escolhas novas a
serem feitas. A aceitação genuína de nossa forma de funcionar, nos permite
enfrentar as situações com mais criatividade e mais leveza, com a certeza de
que sempre fazemos o melhor naquele momento (KIYAN, 2001).
Para a Gestalt-terapia, é
importante que o cliente seja tratado como um ser digno de confiança, isto é,
responsável por si mesmo, pois, se escolhe ser o que é, é uma totalidade que
pode ser integrada, voltado para a consciência, autoregulado, em permanente
energia de autorrealização e presentificação, e em busca de dar um sentido as
suas percepções, às suas experiências, á sua existência (Ribeiro, 1999).
Em Gestalt-terapia os sonhos
são considerados um caminho para a integração de aspectos da personalidade,
pela integração das diversas partes que o compõem. Classicamente, o trabalho
com o sonho é feito no presente, mediante ação e tendo por base a experiência
do sonhador. Cada um dos componentes do sonho (coisas, pessoas, lugares etc.),
seriam representações alienadas do sonhador a serem resgatadas e integradas num
todo (Gestalt). O trabalho com sonhos é delimeado como um experimento, no qual
o cliente é levado a experenciar e explorar seu sonho, orientado pelas
intervenções do psicoterapeuta (Pereira, 2002).
O trabalho com os sonhos não
consiste simplesmente em associar palavras ou idéias, muito menos construir
hipótese, mas perceber com todos os sentidos em meu corpo e em minhas emoções o
impacto das imagens, eventualmente encenadas e assim permitindo-se experenciar
a encarnaçao do verbo aqui e agora ( Ginger; Ginger, 1995).
Apesar dos sonhos parecerem
absurdos eles são a expressão mais espontânea da nossa existência. Perls
considerava o sonho como uma obra de arte, esta sempre cheio de movimento,
luta, encontros e outros tipos de coisas e acreditava que todas as partes do
sonho são fragmentadas da nossa personalidade. E o trabalho do sonho, consiste
justamente em reintegrar essa parte, para voltar a inteireza ou totalidade
humana, assim ressumiria as partes projetadas e todo o potencial oculto que
aparece no sonho ( Agrassar; Cunha, 1992).
Em Gestalt-terapia não se
interpreta o sonho, faz-se dele algo muito interessante, traz-se ele de volta a
vida. A forma de chegar a isto é revivendo o sonho como se ele se desenrolasse
no presente. Ao invés de contá-lo como se fosse uma história passada,
utiliza-se de técnica da dramatização, encenando-o no presente, de modo que ele
se torne parte de você mesmo, de forma que você esteja verdadeiramente
envolvido nele com cada elemento, detalhe dele e depois dramatiza cada um,
tornando-se cada um deles ( Ginger; Ginger, 1995).
Segundo a Gestalt-terapia a
forma de se trabalhar com os sonhos é pedindo ao cliente que o descreva, e em
seguida dramatize de forma sucessiva os variados elementos nele contido, e
assim, o terapeuta sugere ao cliente que ele se identifique sucessivamente com
estes elementos, com palavras, gestos, expressões, evidenciando que cada um
desses elementos seja uma gestalt inacabada ou uma expressão parcial do próprio
sonhador. No decorrer do trabalho com o sonho, o cliente poderá ser convidado a
encarnar uma estrada pela qual percorre, a bolsa que leva, a pedra pelo qual
passou, se conscientizando em cada um desses elementos e dramatizando cada
sentimento, emoção e sensação que ocorra no momento ( Ginger; Ginger, 1995).
Segundo Agrassar e Cunha
(1992), observa-se que cada parte do sonho é um aspecto que se revela a
respeito da pessoa que está sonhando, portanto, é essencial que ela vivencie
cada parte de seu sonho. É necessário transformar-se, identificar-se com cada
coisa, com cada sensação, com cada pessoa, de forma que o cliente torne-se a
coisa, a sensação, a pessoa.
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