Atendimento em pacientes terminais: uma forma de conexão com a vida que ainda esta aí.

SILVA, Ariane Cristina.
Aluna do curso de Psicologia da ACEG-FASU

 MODESTO, Rosana Fortunato.
Aluna do curso de Psicologia da ACEG-FASU

PELATTE, Cheiza Cristine.
Aluna do curso de Psicologia da ACEG-FASU



   A conceituação de paciente terminal não é algo simples de ser estabelecido, embora frequentemente nos deparemos com avaliações consensuais de diferentes profissionais. Talvez, a dificuldade maior esteja em objetivar este momento, não em reconhecê-lo (GUTIERREZ 2001).
   A terminalidade parece ser o eixo central do conceito em torno da qual se situam as consequências, é quando se esgotam as possibilidades de resgate das condições de saúde do paciente e a possibilidade de morte próxima parece inevitável e previsível. O paciente se torna "irrecuperável" e caminha para a morte, sem que se consiga reverter este caminhar (GUTIERREZ 2001).
   A terminalidade da vida é algo inerente a todo ser humano e, na atualidade, a questão do cuidado da vida humana no seu final tornou-se significativa em nossa sociedade, na área da saúde, especialmente na medicina (PESSINI 2001).

   É preciso resgatar de forma mais ampla o valor do cuidado que ficou em segundo plano ante a busca da cura das doenças, e que num sentido mais amplo, abrange aspectos humanos, espirituais, psicológicos e sociais. Segundo PESSINI (1996), estes cuidados são necessários à reabilitação dos pacientes para que possam conviver com sua limitações, ou seja, mesmo que eles não tenham possibilidade terapeutica de cura clínica, que possam ter a sua condição de ser humano e ser social ativo, não apenas na dimensão biológica. Uma assistência digna e humanizada, além do domínio das tecnologias empregadas nos pacientes em UTIs, é dotada de outras características:

[...] cuidar é mais que um ato ou momento de atenção, zelo e desvelo. É uma atitude. E por atitude, nessa situação, entende-se a fonte geradora de muitos atos que expressam a preocupação, a responsabilização radical e a aproximação vincular com o outro. Cuidar portanto, configura uma atitude que possibilita a sensibilidade para com a experiência humana, reconhecendo o outro como pessoa e sujeito [...] (ZOBOLI 2003; 1(1): 38-40)


   Esse reconhecimento e sensibilidade para com o outro deve permear as ações de todos os profissionais para com os pacientes nas UTIs, pois encontram-se em estado de fragilidade física e, quase sempre, emocionalmente e espiritualmente sensibilizados. Entre os pacientes nas UTIs, existe um grupo distinto de pacientes, que é caracterizado pelo uso de muitos recursos tecnológicos, mas com resultados desanimadores, pois num determinado momento da evolução de sua doença, não é mais possível salva-lo, sendo inevitável o processo de morte (FRANÇA, 2000).
   O que caracteriza os pacientes terminais, que são aqueles acometidos por uma doença de difícil tratamento, por um conjunto de situações em que se esgotam as possibilidade terapêuticas de cura ou para prolongar a vida de forma digna e, quando há uma disfunção irreversível do sistema nervoso central (STEFANINI; ROSENTHAL; SIMON, 1998).
   Além disso, é o conjunto das condições e situaçoes que levam os médicos a considerar que não é fácil a definição de paciente terminal, e que mesmo a expressão terminal chega a ser complexa, pois é imprecisa. A dificuldade esta na determinação de qual momento o paciente apresenta duas características: a incurabilidade e o fracasso terapêutico dos recursos médicos ( FRANÇA, 2000).

ASPECTOS PSICOLÓGICOS DOS PACIENTES TERMINAIS


   A percepção das vivencias da morte e do morrer tem sofrido transformações ao longo do tempo histórico, acompanhando as transformações da sociedade no que diz respeito as atitudes diante da morte, evoluindo desde uma experiência tranquila e até mesmo desejada, na Idade Média para uma possibilidade impregnada de angustia, temor e aflição, que deve ser evitada a todo o custo na época atual (Souza e Boemer, 2005).
   Sob os aspectos psicológicos, os enfermos experimentam reações de reajustamento que podem ser chamadas de estágios do processo de morrer, formulados em cinco estágios, por Kubler – Ross (1977).

   Os cincos estágios são denominados como:

   1) Negação: é a tomada de consciência do fato de sua doença fatal. Alguns enfermos costumam procurar uma segunda opinião, outros manifestam a negação de maneira implícita, agindo com otimismo e planos para o futuro.
   2) Raiva: à medida que a negação vai se atenuando, a pessoa começa a experimentar muita raiva, que normalmente é dirigida ao médico, ao enfermeiro, aos visitantes, aos familiares, a Deus e etc.
   3) Barganha: é o desejo do paciente em realizar acordos por um pouco mais de tempo, negociam com a própria morte.
   4) Depressão: ao final do tempo da barganha, o paciente passa à depressão. Ele já não prevê mais possibilidades, a vida acabou. Esta estágio costuma provocar culpa e outros sentimentos de aflição.
   5) Aceitação: ocorre quando o paciente se mostra capaz de entender sua situação com todas as suas conseqüências. A aceitação não exclui a esperança, mas, nesse momento, a pessoa já não tem mais medo ou angústia.

   Existe o mito de que o paciente terminal só teme a morte. Weisman (1972), levantou alguns aspectos, que podem ser mais preocupantes para o paciente de acordo com as suas características de personalidade e historia de vida, e que ele chamou de sofrimento secundário.
   Às vezes, o medo de morrer é menos angustiante do que o de se sentir sozinho e abandonado nestes momentos, há o medo da separação e da perda dos apoios de situações conhecidas e prazerosas. Pode ocorrer ansiedade de aniquilamento e alienação, como se fosse uma morte em vida. A ansiedade de aniquilação pode estar ligada a um medo de desintegração, um medo de perder a sanidade, já que as situações familiares são perdidas, e o paciente encontra-se diante do desconhecido.

   Segundo Le Shan (1973), o paciente com tempo limitado de vida, não importando qual é o tempo objetivo, necessita realizar o desligamento das pessoas e objetos amados. O terapeuta traz consigo a possibilidade de conexão com a vida que ainda esta ai. A questão do tempo limitado é relativa, mais do que a quantidade, importa a qualidade de vida.

   Campos (1995) diz que cada um vive a sua dor; por mais que os outros se esforcem para compreendê-lo, ninguém sentirá o que ele sente. A experiência de estar doente é sentida de forma sempre única, pela pessoa. Observa-se que a doença física é acompanhada de manifestações da esfera psíquica, ocasionando também alterações na interação social. A doença provoca, precipita ou agrava desequilíbrios psicológicos, quer no paciente, quer na família.

   Para ASSUMPÇÃO (1994), o trabalho do psicólogo apresenta-se de maneira essencial e sistemática inserido em uma equipe multiprofissional, visando o bem estar biopsicossocial do paciente e, principalmente, respeitando a ética de seu desejo frente as possibilidades de morte iminente, onde se faz imperioso o respeito às suas escolhas, crenças e valores, até mesmo os religiosos, pois desta forma entendemos que estamos promovendo a vida, e vida até a morte.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

   Apesar de a morte parecer uma realidade inevitável e previsível para os pacientes em fase terminal, isso não significa dizer que não sem tem mais o que fazer. O atendimento humanizado e os cuidados biopsicossociais são indispensáveis nessa fase que se aproxima tanto para o paciente quanto para sua família.
   Concluímos que os cuidados com pacientes em fase terminal vão muito além dos conhecimentos tecnológicos ou científicos. É preciso compreender a fundo a individualidade do paciente e entender que cada paciente vive sua dor de maneira diferente e que por mais conhecimentos que nós profissionais da área da saúde temos diante dessa situação jamais vamos sentir o que o paciente esta sentindo.
   Acreditamos que nós futuras psicólogas, diante da morte podemos ser a palavra que conforta, pois o sofrimento só é intolerável quando se esta sozinho.



BIBLIOGRAFIA:

ASSUMPÇÃO, D. A. E. Tanatologia e o Doente Terminal, in: Revista Diálogo Médico. Roche. São Paulo.1974

CAMPOS, T. C. P. Psicologia Hospitalar - A atuação do psicólogo em hospitais. São Paulo. EPU.1995.

FRANÇA, G.V. Paciente terminal: direito a verdade. Bioética, 2000.
GUTIERREZ, P. L; Rev. Assoc. Med. Bras. vol.47 no.2 São Paulo April/June 2001.
KUBLER-ROSS, E. (1977, 3ª. Ed). Sobre a morte e o morrer. (T. L.Kipnis, Trad.). São Paulo: Martins Fontes.

LE SHAN. Psychotherapy and the patient with a limited life – span, In: RUITENBECK, H. The interpretation of death. New York, Jason Aronson Publishers, 1973.

PESSINI, L. Distanásia: até quando prolongar a vida? São Paulo: Loyola; 2001.

PESSINI, L. Distanásia: até quando investir sem agredir?. Bioética; 1996.

STEFANINI E, ROSENTHEL C, SIMON S. Paciente termina: qual o limite da intervenção? Ser Med. 1998.

SOUZA, L. G. A. e Boemer, M. R. (2005). O cuidar em situação de morte: algumas reflexões. Medicina Ribeirão Preto, 38(1), 49-54.

WEISMAN, D.-Psychossocial considerations in terminal care. Tn: SCHOINBERG, B; CARR, e PERETZ, D.-Psychossocial aspects of care. New York, Columbia Univerity Press, 1972.

ZOBOLI, E.L.C.P. Bioética do cuidado: a ênfase na dimensão relacional. Rev. Estima, 2003; 1(1): 38-40.

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